
Sabe, doutor, estou tendo sonhos estranhos. Na segunda-feira sai correndo nua pela calçada, aos gritos de "pega, pega". Uma multidão prontificou-se a acompanhar-me e uníssonos gritavam "pega, pega". Atravessei a avenida, subi a ladeira, desci na primeira à esquerda, cansada, suada e não conseguia mais alcançar meus ex-seguidores, que me ultrapassaram, aí cai em um buraco e desapareci.
Entendo, mas o que foi estranho?
Como assim? Ninguém me pegou, nada aconteceu, só passaram por mim. Eu queria uma mão suada em minha pele nua, subindo e descendo aquela ladeira e nada aconteceu. Isto é estranho. Mas na terça-feira recebi a bola na intermediária do meu campo, dominei, corri com a equipe toda ao meu lado, os adversários estavam paralisados, só meus companheiros corriam ao meu lado. Eram todos homens, estavam nus e eu vestida de noiva, tocando a bola até o gol adversário. Quando cheguei, sozinha, sem nenhuma marcação, chutei para fora e um buraco enorme abriu, e foi por onde entrei ou caí, sei lá, e acordei na minha cama, sozinha e toda suada.
Interessante. Quer falar mais sobre isto?
Então, na quarta-feira...
Não quer voltar ao vestido de noiva e o buraco?
Sim, mas na quarta-feira estava dentro do banheiro, no final do corredor de um Boeing 747-8, a mais moderna aeronave comercial do mundo, com cerca de 450 passageiros, em uma viagem entre Fortaleza e Porto Alegre. Nisto um estridente alarme soou e fui chamada imediatamente à cabine. Saí correndo completamente nua, imensa de gorda, seios caídos, e só tinha mulher nas poltronas, histéricas, descompensadas, tipo assim.
Interessante, pode falar mais sobre isto?
Claro, pois me deu um ódio danado. Todas, inclusive mamãe e minhas duas irmãs, além de uma dúzia de primas estavam dando nota para mim em uma tabuleta e nenhuma foi maior que três, fora as vaias. Cheguei à cabine e sob intensos protestos, gritaria, vaias, peguei o manche e pousei a aeronave em Caratinga. Fiquei arrasada com as notas ...
Interessante, pode falar mais sobre isto?
Claro, pois me deu um ódio danado. Todas, inclusive mamãe e minhas duas irmãs, além de uma dúzia de primas estavam dando nota para mim em uma tabuleta e nenhuma foi maior que três, fora as vaias. Cheguei à cabine e sob intensos protestos, gritaria, vaias, peguei o manche e pousei a aeronave em Caratinga. Fiquei arrasada com as notas ...
E tinha algum buraco?
Buraco, não lembro, espere, engraçado, já que perguntou, a pista era em um enorme buraco. Mas o pior foi na quinta-feira, quando eu era uma abelha, não uma abelhinha, era uma abelha-rainha, gordíssima, comendo doces e favos até entupir a garganta, e não parava de comer. O salão da colmeia era lotada de zangões, mas nenhum deles queria nada comigo e como estava muito gorda, não conseguia apanhá-los. Tentei sair por um estreito buraco e acordei toda suada e chorando ou zumbindo, sei lá.
E a sexta-feira?
Pois é, então, sexta e sábado não sonho nada disto. O que eu tenho que fazer? Estou preocupada.
Então; estar nu diante de alguém num sonho não quer
dizer que você seja secretamente uma exibicionista ou sedutora; provavelmente
significa que você está sendo aberta e vulnerável, sendo você mesma sem máscara,
proteção ou condicionalismos culturais. Mas como estes sonhos sempre referem-se à você mesma, pode significar que perdeu ou sente
falta de alguma qualidade que é auto-representada.
Eu sempre peço aos meus pacientes que geralmente nestes sonhos recorrentes de fuga,
voos, quedas em buracos ou abismos, recolham os elementos
que, ainda que pareçam insignificantes ou incongruentes com o resto do sonho, a fazem individualizar o nó de onde nasce o sonho e o caminho da auto-descoberta
e das futuras mudanças da própria interioridade.
Mas no seu caso, o que acho mesmo é que esta mania de começar a louca dieta mágica para emagrecer nas segundas-feiras e abandoná-las na sexta ainda é a maior causa destas suas experiências oníricas ...
É isto aí!
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