
No decorrer do dia estudara uma tese sobre "Amor
Patológico", para entender uma situação encontrada em uma paciente. Com o
fim do noivado transformou-se em prisioneira de um sentimento doentio. O amor
patológico é caracterizado pelo comportamento de prestar cuidados e atenção
extrema, de maneira repetitiva e desprovida de controle, e em um relacionamento
amoroso é um quadro ainda pouco estudado cientificamente, apesar de não ser
raro e de gerar sofrimento importante.
Entre seus estudos, dedicara maior atenção a um órgão
situado na cavidade nasal denominado órgão vomeronasal (OVN), cuja finalidade
parece ser exclusivamente a de detectar sinais químicos – os ferormônios -
envolvidos no comportamento sexual e de marcação de território.
Como não há duas pessoas que possuam exatamente o mesmo cheiro, acreditava que de certa forma o odor exalado pelo outro num processo de excitação mútua transformava-se em gatilho psicológico em determinados distúrbios congênitos, daí a inevitabilidade.
Como não há duas pessoas que possuam exatamente o mesmo cheiro, acreditava que de certa forma o odor exalado pelo outro num processo de excitação mútua transformava-se em gatilho psicológico em determinados distúrbios congênitos, daí a inevitabilidade.
Pensava que seria possível, uma vez ativado o gatilho, que o OVN estimulasse neurotransmissores do diencéfalo como a Feniletilamina, que são inibidores da
Dopamina, em alta e permanente concentração, gerando uma paixão doentia, com falta da sensação de bem-estar, felicidade, prazer. Neste caso o/a paciente não seria capaz de resolver problemas, ou administrar
sentimentos e responder de forma adequada. Os aspectos determinantes diferenciais seriam a falta de remorso sobre os comportamentos imorais, inquietude, agitação, insônia e
irritabilidade.
Entre o décimo e décimo-primeiro andares, montando sua tese na memória, deparou com um par
de pernas de tirar o fôlego, completadas pela divina extensão de um salto alto
sedutor. Refeito da imagem, procurou pelos olhos da dona, mas não viu a sua
face, encoberta pela sombra da precária iluminação. Na blusa tinha uma frase - "Amor para sempre". Lembrou das
sincronicidades de Jung, mas aquelas pernas não permitiam pensar muito.
Olá, disse à moça.
- Olá
O que faz aqui, em um lugar como este?
- Nada, estava cansada de ficar presa em uma sala e resolvi
ficar presa na escada.
Interessante, é uma saída inteligente.
- É verdade, não encontrará muitas meninas inteligentes
assim por aí.
Riram da situação.
Uma hora havia se passado, quando ela se deu conta que
acordaria cedo, e nem ao menos se apresentaram. Daí veio a fase de perguntas
caracteristicamente femininas:
- Você vem sempre por aqui?
Não, raramente passo aqui.
- Tenho que ir, amanhã nos encontraremos?
Talvez.
- Você tem Skype?
Pensou em dizer a verdade - não tinha nenhuma das inovações
tecnológicas - mas resolveu negar apenas a da pergunta, mas ao fazê-lo ela
duvidou. Seu instinto feminino entrou em estado de alerta geral. A lógica dizia que se ele recusou a informação, é porque a rejeitara. Nestas conjecturas, é comum as mulheres partirem para um ataque súbito, com o intuito de tirar as dúvidas e escancarar os motivos. Então veio a segunda
pergunta:
- Você é casado? Responda a verdade.
Pensou em fazer um discurso sobre a questão filosófica da
verdade, mas respondeu objetivamente como da forma anterior, desta vez de forma afirmativa.
A moça visivelmente magoou e partiu. Ficou seu perfume e a imagem da janela entre
a sola e o salto, trançando as coxas ao levantar-se. Foi para casa e resolveu
estudar mais sobre o assunto. Aquele perfume enebriou seus dias seguintes de
uma forma indescritível. Mais que isto, a janela entre a sola e o salto, ao trançar as coxas, fixou-se em sua mente - a princípio achou que fora apanhado pela patologia dos seus estudos, mas logo percebeu que o fato dela ter sido agradável e atenciosa não evitou um delicioso fetiche por coxas femininas sobre um salto agulha.
Amanhã, pensou, desço no décimo andar e subo apenas um lance de escadas, e explico que tudo foi um grande mal entendido, quem sabe possamos ser amigos? Lembrou de uma piada sobre Freud, onde tem hora que um charuto é apenas um charuto. Riu sozinho e assim a vida continuou.
Amanhã, pensou, desço no décimo andar e subo apenas um lance de escadas, e explico que tudo foi um grande mal entendido, quem sabe possamos ser amigos? Lembrou de uma piada sobre Freud, onde tem hora que um charuto é apenas um charuto. Riu sozinho e assim a vida continuou.
É isto aí!.
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