quarta-feira, 28 de maio de 2014

Carminha no dentista


O que acha que eu tenho, doutor?


- Sapatos bonitos com salto...



Fala sério, doutor, o que eu tenho?



- Vestido de algodão, anéis, brincos, pulseiras, relógio...



Você não pode estar falando sério. Não pode fazer isto comigo!



- Mas é o que estou vendo que você tem.



Como assim? Não está invadindo o meu interior? Não vê minha alma, meus sentimentos ocultos? Não vê minha tristeza? Meu amor por você?


- Não tenho como ver, e não é o que procuro.


Nossa, como você é ridículo. Não vê nada em mim?



- Talvez o cabelo tenha mudado o penteado.



Não sente nada?



- Sinto um perfume com uma fragrância sensual e envolvente e ao mesmo tempo fresca.



Uau, jura? É da Carolina Herrera, eu adoro também, e agora que sei que você gosta, uau.



- Não disse que adoro, disse que sinto o perfume.



Nossa, como você é insensível.



- Tem dores frequentes?



Não quero falar sobre isto. Mas tem dois dias que sinto estalos no joelho esquerdo. 



- Entendo. Abra a boca...



Ufa, até que enfim um contato de terceiro grau.


- Quer fazer o favor de ficar quieta...


Tudo bem, mas estou com uma coisa estranha na coxa esquerda. Quer ver?



- Não é necessário.



Carminha, Carminha, para de falar sozinha no banheiro e acaba logo este banho, que vai chegar atrasada na consulta...

- Ah, mãe, só estou treinando o diálogo para a consulta com aquele dentista solteiro que está atendendo no Posto de Saúde. Hoje quero achar uma frase que não tenha jeito dele escapar...





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