terça-feira, 13 de maio de 2014

Pensadora Valesca



Atenção - Este texto não é meu - Copiei e Colei
Autor: Guy Franco

Fonte: https://br.noticias.yahoo.com/blogs/guy-franco/an%C3%A1lise-da-obra-quero-te-dar-valesca-popozuda-134455530.html


Esta semana, descobrimos a existência de Patrícia Secco, a escritora que captou recursos públicos para simplificar O Alienista, de Machado de Assis. Mas será que uma obra mantém sua profundidade mesmo quando a reescrevemos de maneira que “Cristiano, faxineiro de uma farmácia de Boa Viagem” possa compreendê-lo? Talvez a resposta esteja no funk carioca.

Pensadora Valesca

Vamos à Valesca Popozuda, nossa grande pensadora contemporânea. Organizei aqui algumas notas sobre a música Quero te Dar. 

Acredito que poucos percebem as referências intelectuais que ela usa em suas letras aparentemente simples. Espero que meus comentários ajudem a trazer essas referências à superfície.

Amor, tá difícil de controlar

Popozuda parece sugerir a Summa Theologiæ, de Santo Tomás de Aquino, que nos apresenta as virtudes humanas, dentre elas a prudência. A prudência, virtude intelectual essencial ao homem de bem, é uma das principais virtudes cardeais, ao lado das virtudes morais da justiça, fortaleza e temperança. Cumpre observar a maneira hábil com a qual a autora começa a obra, usando “amor”, recurso tão batido, mas tão preciso aqui.

Há mais de uma semana
Que eu tento me segurar

A discussão já vem de Aristóteles (383 – 322 a.C), mas foi tomada por virtude moral pelo Doutor Angélico e retomada agora por Popozuda. Para Popozuda (ver os DVDs Tsunami e Tsunami II), a virtude consiste em viver segundo a natureza. Como a natureza humana é racional, para viver a felicidade plena é preciso buscar o bem, ou seja, a conservação dessa natureza, que no caso é “se segurar”, e não seguir os instintos, apenas.

Eu sei que você é casado

Difícil não pensar aqui em passagens do Levitício ou no Sermão da Montanha do Novo Testamento. Difícil não pensar em Emma Bovary (Flaubert) ou em Victoria Beckham (David Beckham).
Como é que eu vou te explicar?

Aqui a consciência popozudiana começa a se questionar. Durante a elaboração da pergunta, um desenho inconsciente toma forma na cabeça de quem ouve o trecho com a devida atenção (usando fones de ouvido).

Essa vontade louca
Muito louca

Ou: Diese sehr verrückt verrückten Wunsch (ler Além do Bem e do Mal)
Segundo Nietzsche, mesmo a “vontade louca, muito louca” ainda contém em si um pouco de sanidade (ler Marcia Tiburi).

Eu posso falar?
A pensadora dirige-se ao patriarcado. O trecho funciona como transição para o tema principal da obra popozudiana, a mulher submissa, que aqui precisa pedir permissão para falar com um homem.

Quero te dar, quero te dar

A passagem, sem sombra de dúvida, vem de Wittgeinstein. O verso é uma dessas construções elegantes que fez a fama da nossa pensadora quando ela ainda era integrante da Gaiola das Popozudas. Afinal, ela quer dar o quê? Para quem? E o que ela está usando na cabeça? Onde comprou aquilo?

Quero te...
Quero te...

Observe com que delicadeza ela combina o tema do patriarcado com o romantismo. As reticências ecoam em nossa cabeça. Bonito e comovente.

Dá dá dá dá dá dá dá dá dá dá

Dá (да), "sim" em russo. No pensamento popozudiano, a sociedade joga às costas das mulheres um fardo de inferioridade, de maneira que elas são obrigadas a dizer “sim” (да) o tempo todo. A sociedade machista é a sociedade em que a mulher não pode dizer não. Paralelamente, “dá” é também a pronúncia de "pai" em algumas regiões do Reino Unido. Talvez a pensadora pretendesse ligar a submissão (mulher que só pode dizer "sim") com a figura do patriarcado (o pai, o Papa, o Sarney).

Meu nome é Valesca

Valeska, diminutivo de Valeria em várias línguas eslavas. É bem provável que ela esteja se referindo a Santa Valeria de Milão, torturada no ano de 287 d.C por ter se recusado a fazer sacrifícios em nome de deuses pagãos. Valesca, a nossa Valerinha de Irajá, também recusa o que lhe é imposto. Neste caso, o patriarcado é o seu imperador Diocleciano; o machismo, os seus deuses romanos.

E o apelido é "quero dá”

Ou: quero sim. Embora se chame Valesca, para a sociedade ela ainda é a mulher submissa que só pode responder “sim” - daí o apelido.

Ai, ai que vontade louca
Difícil de controlar

Peço que ignore esses versos caso não tenha lido O Vermelho e o Negro, de Stendhal. Pouparei o leitor de spoilers.

Tô tô tô tô tô tô tô tô

Perceba como a repetição da sílaba cria uma linha melódica como se fosse o eco de uma martelada, de um som metálico. Nota-se a sugestão de fábrica, de processo industrial. Difícil não pensar em Pierre Schaeffer, Stockhausen e outros compositores experimentais, pais da música eletrônica que conhecemos hoje.

Tô doidinha pra te dar

Aqui tem algo que me faz pensar. Que incidente teria levado Popozuda a ficar doidinha de uma hora para a outra? Esse incidente teria alguma relação com o homem casado? Ele tem filhos? Com quem ela está desabafando tudo isso? E por que quando a observamos de lado parece que ela vai tombar?

Quero te dar beijinhos

Talvez uma forma indireta de dizer “eu te amo” (ver Senhor dos Anéis).

Vem cá, vem cá, vem cá

É quase certo que Popozuda tenta incorporar aqui algo que remete às lendas folclóricas, talvez ao canto da sereia. O trecho final fica em suspenso. Nesse ponto talvez seja melhor o ouvinte se deixar levar pelo canto de Valesca.



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