terça-feira, 11 de agosto de 2015

Da indiferença deste mundo




Envelhecer é bom e é ruim, assim como viver, dormir, andar, namorar, estudar e tantas outras coisas do ritual comum à todos os mortais. De tudo isto, só envelhecer é que é para sempre, o resto passa, como o primeiro amor, a primeira emoção, o primeiro beijo e tantas outras experiências que começaram ou terminaram no primeiro ato.




A fração ruim de envelhecer é a indiferença, e é ela a coisa a ser combatida. Provoca depressão, tristeza, desânimo, atritos familiares, sociais, espirituais e tantas outras coisas visíveis ou invisíveis. A indiferença é um dos poucos males que promove o óbito mantendo os sinais vitais. A pessoa está tecnicamente viva, mas não pertence mais a este plano. Este é o vírus letal da humanidade, e o pior, é um ato unica e exclusivamente humano.




Já que falei nisto, vou postar Cecília Meireles e seu belíssimo poema






Como se morre de Velhice (publicado em 1957)



Como se morre de velhice 

ou de acidente ou de doença, 

morro, Senhor, de indiferença. 








Da indiferença deste mundo 


onde o que se sente e se pensa 


não tem eco, na ausência imensa. 





Na ausência, areia movediça 


onde se escreve igual sentença 


para o que é vencido e o que vença. 





Salva-me, Senhor, do horizonte 


sem estímulo ou recompensa 


onde o amor equivale à ofensa. 





De boca amarga e de alma triste 


sinto a minha própria presença 


num céu de loucura suspensa. 





(Já não se morre de velhice 


nem de acidente nem de doença, 


mas, Senhor, só de indiferença.) 








É isto aí!


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