domingo, 30 de agosto de 2015

Meu nome é Quêite

- O senhor tem alguém conhecido, um parente, alguém que possa ser comunicado da sua presença? perguntou a Assistente Social a um senhor bem machucado, dois braços quebrados, sem dentes e com muitos hematomas.

- Tem não, moça, só quero vingança. Foi uma covardia que fizeram comigo. Bem, vou contar o que aconteceu, e acho que vou na polícia depois que sair daqui. Estava passeando em Copacabana e vi dois amigos que não via há muitos anos, desde a infância na distante Vila do Jacaré, no interior do interior de Minas. Aí um deles, que não era assim tão meu amigo, nem lembro do nome dele, convidou-me a ir almoçar na casa de um outro conhecido dele, que eu não lembro nem sei bem quem era. Lá começamos a lembrar das pessoas do nosso lugar. E o que era meu amigo ficou dando corda.

- E o Chico da Pata?

- Pois é, tão bom, mas faleceu.

- Sério? Que pena, e o Tião Farinha?

- Então, teve uma doença triste, e buscou o fim da vida de uma forma autônoma.

- Rapaz, o Tião ..., que pena. Mas e as meninas da Casa Rosa?

- Então, sabe que nunca mais vi aquelas meninas, mas a boate ainda existe, e as meninas entram e saem.

- Muita gente que a gente nunca mais vê. Que coisa é a vida. (foi aí que ele mudou o rumo da prosa)

- É verdade. Você lembra da família do Zefirmino da Gal?

- Claro, o Zéfirmino teve três filhas, eu estudei com uma delas.

- E a filha mais velha dele?

- Nossa, gostosa demais. A moça mais velha ficou alta, linda, elegante, maravilhosa, poderosa e casou-se com Osmarinho Serventia, um galã para os moldes da pequena e pacata Vila do Jacaré, onde nasceram e se criaram. Mudou-se lá para São Paulo e desapareceu na poeira da vida.

E a filha do meio?

- Hummmm, a segunda filha foi a que eu estudei com ela. Nossa!!! Que corpo!!! Cresceu na sombra da mais velha e ficou alta, linda, elegante, maravilhosa, poderosa e casou-se com Geraldinho da Cascatinha, um bom rapaz para os moldes da pequena e pacata Vila do Jacaré, onde nasceram e se criaram. Mudou-se para São Paulo e nunca mais soube da sua vida.

- E a Catinha?

- Claro, a Catarina, ou Catinha como era chamada. Um pouco estranha, digamos assim. Feinha, não é? Era a caçula de três moças. Até os seis anos pouco falava, mas tinha habilidades estranhas, como desenhar no chão traços enigmáticos, palavras ininteligíveis e movimentos circenses inesperados. Jogava bola na rua, brigava na escola, e coitada, feia demais. Mas o tempo vai e a vida segue e nunca mais a vi.

- Você lembra de uma conversa de um negócio que aconteceu com ela?

- Não só lembro como fui eu que fiz. A danadinha tinha uns treze anos, já tinha um corpinho razoável, aí eu fiquei de tocaia no Beco da Rapadura, e quando ela passou eu puxei ela pelo cabelo prá dentro do Beco, ela tentou esquivar, puxei o cabelo com tanta força que ficou um tufo na minha mão. Aí, enquanto ela tentava me atacar, rasguei a roupa dela todinha, dei uns tapas bem fortes para acalmar a doida, um soco bem dado no estômago e a vaca ficou só gemendo e virando os olhos. 

E quando parecia que estava mais calma, ali bem quietinha, eu fui apertando os seus bracinhos, fui encostando nela e foi então que a filha de uma puta me deu um joelhaço, caí de dor, deu mais uns dois chutes covardemente no mesmo lugar e ainda por cima jogou terra no meu olho. Puta merda, eu queria só fazer uma coisa boa, gostosa, e a piranha sacaneou comigo. 

Como estava de noite, não viu que era eu, mas aquilo me deu mais vontade ainda, mas aí acabou que logo uns dois dias depois mudei com minha mãe para a capital e perdi uma nova oportunidade.

- Humm, entendo. Você conhece minha esposa? (perguntou o dono da casa)

- Não, não conheço.

- Quêite, ôôô Quêite, vem aqui fora só um pouquinho, quero te apresentar um velho amigo do nosso amigo.

- Ela chegou e fez uma pergunta estranha: E você quer uma história trágica, engraçada, ou uma lição de moral?

- Desculpe, senhora, mas por que a pergunta?  

- Meu nome é Quêite, Q - U - E - I - T - E, sou faixa preta em três modalidades de luta marcial, esperei por anos por este momento e o senhor pode também me chamar de Catinha ...

- E foi aí que não lembro de mais nada, sabe quantos dias estou aqui??

- Não sei, mas tem quem sabe - Quêite ... pode vir aqui, tem um moço querendo saber ... ué ... sumiu!

É isto aí!

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