Envelhecer é bom e é ruim, assim como viver, dormir, andar, namorar, estudar e tantas outras coisas do ritual comum à todos os mortais. De tudo isto, só envelhecer é que é para sempre, o resto passa, como o primeiro amor, a primeira emoção, o primeiro beijo e tantas outras experiências que começaram ou terminaram no primeiro ato.
A fração ruim de envelhecer é a indiferença, e é ela a coisa a ser combatida. Provoca depressão, tristeza, desânimo, atritos familiares, sociais, espirituais e tantas outras coisas visíveis ou invisíveis. A indiferença é um dos poucos males que promove o óbito mantendo os sinais vitais. A pessoa está tecnicamente viva, mas não pertence mais a este plano. Este é o vírus letal da humanidade, e o pior, é um ato unica e exclusivamente humano.
Já que falei nisto, vou postar Cecília Meireles e seu belíssimo poema
Como se morre de Velhice (publicado em 1957)
Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.
Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.
Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.
Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.
Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.
De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.
(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)
É isto aí!
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