terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Poema do Adeus



Você que passa 
sempre apressada
por rotas fugazes 
pavimentadas
nuas ou descalças,
avenidas largas
alamedas, ruas
becos, ladeiras 
rampas, passarelas
e escadarias
dos meus sonhos
e pensamentos,
poderia ser
tanta coisa,
mas preferiu
ser saudade,
esta ausência
que habita
para sempre
em mim.
Então um dia,
triste do estar
declamarei
Vinicius de Moraes
e proclamarei baixinho:
"Eu deixarei que morra em mim
O desejo de amar os teus olhos 
que são doces
Porque nada te poderei dar
Senão a mágoa 
de me veres eternamente exausto"

É isto aí!


Poema incidental: 

Ausência - Vinícius de Moraes

Eu deixarei que morra em mim
O desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar
Senão a mágoa de me veres eternamente exausto

No entanto a tua presença
É qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto
Existe o teu gesto e em minha voz a tua voz

Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim
Como a fé nos desesperados

Para que eu possa levar
Uma gota de orvalho
Nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
Como nódoa do passado

Eu deixarei
Tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
E tu desabrocharás para a madrugada

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu
Porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite
E ouvi a tua fala amorosa

Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
Suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado

Eu ficarei só
Como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei como ninguém
Porque poderei partir
E todas as lamentações do mar
Do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente
A tua voz ausente
A tua voz serenizada


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