Você que passa
sempre apressada
por rotas fugazes
pavimentadas
nuas ou descalças,
avenidas largas
alamedas, ruas
becos, ladeiras
rampas, passarelas
e escadarias
dos meus sonhos
e pensamentos,
poderia ser
tanta coisa,
mas preferiu
ser saudade,
tanta coisa,
mas preferiu
ser saudade,
esta ausência
que habita
para sempre
em mim.
Então um dia,
triste do estar
declamarei
Vinicius de Moraes
e proclamarei baixinho:
"Eu deixarei que morra em mim
O desejo de amar os teus olhos
que são doces
Porque nada te poderei dar
Senão a mágoa
de me veres eternamente exausto"
É isto aí!
Poema incidental:
Ausência - Vinícius de Moraes
Eu deixarei que morra em mim
O desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar
Senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença
É qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto
Existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim
Como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar
Uma gota de orvalho
Nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
Como nódoa do passado
Eu deixarei
Tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
E tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu
Porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite
E ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
Suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado
Eu ficarei só
Como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei como ninguém
Porque poderei partir
E todas as lamentações do mar
Do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente
A tua voz ausente
A tua voz serenizada
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