sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O verso e o reverso do espelho de Osmarina


ATENÇÃO - esta é uma adaptação livre de um texto de Machado de Assis - "O Espelho", publicado no livro "Papéis Avulsos", de Machado de Assis em 1882.


Neste conto aparecem os temas chaves de Papéis Avulsos: ser X parecer; desejo X máscara, vida pública X vida íntima. Através de uma aguda análise do comportamento humano, Machado de Assis expõe em "O Espelho" que a nossa "alma externa", ligada ao status e prestígio social, à imagem que os outros fazem de nós, é muito mais importante do que a nossa "alma interna", ou seja, a nossa real personalidade.

Osmarina é uma mulher de mais de 50 anos e de origem humilde, que conseguiu subir na vida por conta de uma nomeação a um cargo público. Certo dia estava com mais quatro amigas em uma casa debatendo sobre a alma, o universo e outros assuntos. Osmarina, porém, mantinha-se calada e parecia não estar muito interessada no assunto. Quando uma das presentes exige que ela dê sua opinião, Osmarina diz que irá contar um episódio de sua vida. Ele pretendia defender sua teoria de que cada pessoa possui duas almas: uma exterior e outra interior.

Aos 40 e poucos anos, Osmarina foi nomeada para um dos mais altos cargo da corte tupynambá, o que lhe garantiu uma mudança significativa de status. Sua família passou a elogiá-la e a se orgulhar dela, e agora era a "Sra. Osmarina – a Tal". Um dia sua tia Marcolina a chama para ir até o sítio onde ela morava, lá no interior do mato. Por conta do status de Osmarina, ela lhe oferece um grande espelho, proveniente da Capital do Reino Tupynambá, e também oferece a melhor mobília da casa, e a coloca no melhor quarto destinado a pessoas ilustres. A partir de então tudo mudou em sua vida. A percepção que tinha de si mesmo passou a ser aquela que outros tinham dela, e a pessoa que Osmarina era não mais existia.

Pouco tempo depois de chegar ao sítio, tia Marcolina saiu de viagem. Aproveitando a ausência dela, os empregados entediados fugiram e Osmarina viu-se sozinha no sítio. Assim, passou os dias perdida nas sombras da solidão e angustiada por ter perdido a sua "alma exterior", fruto da imagem que os outros faziam dela. Em certo momento ela decide olhar o espelho e percebe que a imagem ali refletida estava corrompida e difusa, assim como a imagem que ela fazia de si mesmo na ausência dos outros.

Não conseguindo enxergar a si mesmo com nitidez, Osmarina resolve vestir sua roupa de professora e olhar-se no espelho. Dessa vez a imagem refletida era nítida e com clareza de detalhes e contornos. Recuperando, assim, a "alma exterior" que preenchia sua "alma interior", Osmarina conseguiu evitar a solidão nos dias que se passaram.

Terminado o relato de sua história, Osmarina vai embora e deixa suas amigas em um perpétuo silêncio reflexivo.

É isto aí!


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