Prezado Senhor,
Não sou bom em escrever cartas, na realidade não sei escrever cartas, antigamente sabia, mas isto era antes de não existir mais o que existia. Escrevia as cartas, colocava num envelope, lacrava, levava ao Correio (naquela época chama-se Correios&Telégrafos), lá comprava o selo, a pessoa atendente carimbava e uma semana depois chegava ao destino, se o destino fosse próximo.
Também enviei telegramas com naturalidade. Tinha o conhecimento de redução das palavras, evitar pontos, vírgulas, crases e outros acentos. Aprendi isto no grupo escolar, outra coisa que não existe mais. Tal qual rádio a válvula, frutas/verduras/legumes sem agrotóxicos, telefone fixo com fio e outras coisas mais.
No natal tomava crush e grapette. Só no natal e era uma garrafa só de cada. Aquilo era um pedaço do céu na Terra. Tinha festa junina, tinha balão de são João, tinha terreiro para inventar o que pudesse inventar. Criei cidades, estados, países e planetas. Pilotei naves espaciais, fui à Lua diversas vezes, prendi saci com peneira, tinha uma garrafa azul, biroscas e bola de meia.
Deus, minha infância foi no mínimo boa. Claro, tive surras inesquecíveis, castigos, três idas ao hospital por acidentes gravitacionais, mas sobrevivi a tudo isto, apesar dos muitos pontos e muitas cicatrizes. Elas narram minha intensa atividade infante, me lembrando que venci muitas batalhas. São marcas de vitória em lutas memoráveis.
Esta marca da infância, ser destemido, sonhador, capaz de voar, edificar, construir e ajudar, sou grato por todas elas.
É isto aí!
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Gratidão!