Imagem: Centaurus A (NGC 5128)
Fonte: Wikipédia
Um gravíssima e irreversível crise familiar, o salário atrasado, as contas vencidas, a despensa em declínio, dívida na padaria, na farmácia, no açougue, no sacolão, no mercadinho, na barbearia, no bar e na banca. Luz, água e telefone cortados, o que não deixava de ser um conforto, pois não geravam despesa e o telefone mudo evitava as cobranças constantes.
No quintal uma horta, no fundo um riacho com piabanha e num tanque cavado uma coleção de traíras. A fome não era o problema. O salário atrasado o arremessava para todos os colegas na mesma situação e o patrão em desespero por ter avalizado um parente, motivo da sua falência. O parente teve morte súbita e não pode honrar o compromisso e o credor do parente, também falido, desapareceu na história numa tragédia pessoal. O carrossel girava no sentido da dor.
A tarde entrava na noite, e enquanto observava os vagalumes no ritual da luminescência, viu seu corpo do alto da casa, viu os vagalumes se transformarem em estrelas, as estrelas dançavam, giravam, faziam evoluções gravitacionais aglomerando-se em constelações, as constelações em galáxias e as galáxias infinitamente majestosas entravam e saíam da sua mente. Entravam e saiam, entravam ... e saiam ...
Experimentava um som relaxante misturado com barulho de vento e chuva. As batidas biauriculares aumentavam sua cognição, foco e concentração, e as galáxias internas estimuladas pelo som, operavam com o fluxo máximo de informações possível entre os dois hemisférios cerebrais, numa sincronização do cérebro inteiro e, quando atingiu a sincronização completa, encontrou-se consigo e ao seu lado a mulher de todos os seus sonhos.
Não queria sair dali - eu amo você, falou, gritou, pensou, murmurou, e ao mesmo tempo que experimentava este amor incondicional - ela verdadeiramente sorria. Com os dois hemisférios do cérebro sincronizados, todo o potencial de percepção do real fora destravado e os recursos em sua mente subconsciente (conectados ao hemisfério direito) se tornaram despertos nessa sincronização. Permitiu-se primeira vez auto-perdoar por tê-la perdido - nunca se perdoou até aquele dia.
Retornou ao corpo inerte, choro de paz, a consciência tridimensional estava agora conectada ao universo, conhecera sua nova realidade. Sentiu-se leve, feliz como a muito não sentira. Era agora um homem livre. No colapso do caos conheceu a paz.
É isto aí!
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