terça-feira, 4 de março de 2014

Nelson sabia das coisas


A vida como ela é, bonitinha, mas ordinária.

Na República Tupynambá vizinha do Reino da Pitangueira, há uma mulher bonitinha, mas ordinária, na faixa dos quarenta anos, que não conheço, que se apresenta diariamente, diante das câmeras de um tele-jornal soltando um ódio visceral contra os pobres, os pretos e as putas. Bate impiedosamente. Seu olhar tem a marca da maldade, seu sorriso é draconiano e sua voz é luciferina.

Não bastasse expelir toda a sua fúria, merecedora de uma análise psicanalítica mais afinada, passou agora a querer ser objeto de desejo total, convocando o povo para segui-la em uma marcha triunfal pelas cinzas ruas de São Paulo.

Sempre que a vejo, recordo do Nelson Rodrigues - aquela mulher pudica, com roupas comportadas e pregação sobre a moralidade e com um civismo exacerbado que excita a massa, pois "o pudor é a mais afrodisíaca das virtudes".

"Toda mulher bonita leva em si, como uma lesão da alma, o ressentimento. É ressentida contra si mesma", e deve ser esta a razão dela ter tanta mágoa,

E ela fala com tanta veemência, que Nelson deve te-la conhecido em uma visão futurística: "Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade."

E a sua pose de honesta, determinada e convicta está explicada também por ele: "A prostituta só enlouquece excepcionalmente. A mulher honesta, sim, é que, devorada pelos próprios escrúpulos, está sempre no limite, na implacável fronteira."

Além disto, passa a mensagem de que ela é uma pessoa histérica, fria e histérica, como uma neurótica idealista e obsessiva - "Nem todas mulheres gostam de apanhar, só as normais, as neuróticas reagem."

É isto aí!



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