Contos da Feiticeira de Açucena
Parte I
O drama da família
Conta a lenda, que lá pelas bandas de Açucena, no início do século passado, nos rincões de Minas Gerais, em uma pequena e pacata propriedade rural, moravam um casal e seus dois filhos. Tinham lá umas vaquinhas, umas cabritas, galinha, pato, cachorro e gato, mas o xodó dos meninos era Lindinalva, uma jumentinha adquirida pelo pai, de um grupo de ciganos acampados pelas bandas do Aramirim.
Lindinalva passou logo a ser praticamente uma pessoa da família, a filha mais velha do casal, a faz-tudo, sempre engraçadinha. Ia na rua sozinha e esperava o padeiro colocar os pães no balaio, passava na venda, onde o quitandeiro pegava a lista e colocava as solicitações, e assim passava pela cidade e retornava para os afazeres domésticos.
Um dia, enquanto arrumava a cozinha do almoço, Dona Juracy ouviu um urro estranho, largou as vasilhas na bica, enxugou as mãos apressadamente no pano amarrado ao vestido como um avental, olhou pela janela e viu que a Lindinalva, que seu marido adquiriu com tanto sacrifício e com muito orgulho, estava caída no curral.
Dona Juracy ficou desesperada. Correu para ver o que havia ocorrido, tropeçou, caiu, batendo com a cabeça em uma das pedras que haviam no caminho e desmaiou, deixando uma poça de sangue ao redor da ferida aberta na fronte. Seu Juventino, ao ouvir os gritos da esposa, desceu em desembalada carreira do pasto onde estava, e também tropeçou, rolou ribanceira abaixo, e ficou desacordado.
Joãozinho e Juquinha correram para socorrer a mãe. A carregaram até a cama, e foram buscar o pai, que também foi colocado desacordado ao lado da esposa. Joãozinho, ao perceber que poderia perder os pais, desmaiou ali mesmo, sem forças para reagir.
E agora, pensou Juquinha, como iriam alimentar a família, quem carregaria a
lenha, mandioca, etc. se até o pai, tão forte, estava doente? Enorme drama familiar....
Parte II
Os ciganos
O filho mais velho não tendo a quem recorrer, tomou uma
decisão: foi até o acampamento dos ciganos para buscar ajuda. Quando lá chegou, foi bem recebido e explicou a tragédia familiar. Ouviram tudo com muita atenção, pensaram muito, conversaram em um dialeto estranho para Juquinha e um que parecia o mais velho respondeu que nada poderia fazer naquele momento, mas que ele procurasse uma mulher que morava mais acima, com poderes de cura e visão, pois ela tinha sido a dona anterior da jumentinha e saberia como resolver toda esta tragédia, pois parecia que existia uma relação entre as partes envolvidas.
Juquinha, num misto medo e necessidade, foi ao encontro dela, cujas histórias de bruxaria assombravam a todos do lugarejo. Nunca a tinha visto, mas só de saber que estava indo ao seu refúgio, o pânico o assombrava.
Por muitas noites ficou sem dormir, ao escutar as histórias que contavam sobre aquela misteriosa mulher. Uns diziam que era uma fera em corpo humano, outros que era uma bruxa com mais de trezentos anos, capaz das maiores crueldades.
Parte III
A Feiticeira de Açucena
Juquinha, aterrorizado, seguiu pelo campo, sempre à noroeste, conforme informado pelo cigano. Passou por longos trechos de mata, ouviu barulhos estranhos, sentiu estar sendo seguido, teve medo, desespero e tremores.
Depois de seis horas de caminhada, teve a impressão de ver Lindinalva no pasto logo abaixo de sua rota. Desceu a íngreme encosta, mas a medida que descia, a imagem desaparecia e se tornava uma mulher.
Ao se aproximar de um casebre antigo, sentada nua, com estranho chapéu e um imenso colar de pérolas à mão, uma mulher com olhar longínquo estava a esperá-lo, sem olhar para seu rosto.
Olá Juquinha, antecipou a feiticeira, com uma voz enebriante. Eu sei o que aconteceu com a sua família... mas se você aceitar casar comigo, eu trago todo mundo de volta.
Juquinha hesitou, ficou ali meio abobado, sentindo uma coisa estranha em si, um conflito entre a confiança e a fuga. Uma mulher estranha, antes mesmo de dizer algo, chamou-o pelo nome e revelou o motivo da sua vinda. Quem era ela? Como só podia ser ela? Pensou, sem tirar os olhos de seu belo corpo nu.
- Olha aqui rapazinho, se você casar comigo, será bom para todos. Resolva logo.
- Casar? Como assim casar?
- Sim, casar, você topa?
- Juquinha pensou, pensou, não tinha nada a perder. Sim senhora, eu topo.... mas desde que você cumpra a sua
parte antes...
- Que assim seja, mas antes você terá que saber meu segredo.
- Segredo? Qual segredo?
- Eu sou a Lindinalva, e fiz tudo isto acontecer para que você viesse até mim, por que você, Juquinha, é jurado a mim! Você preencheu todo o meu imenso vazio interior!!!! Você é meu, Juquinha... entendeu??? M!!!eu
- Juquinha voltou para casa montado em Lindinalva, e viu que estavam todos bem. Pediu bençãos aos pais, despediu do irmão e partiram felizes para sempre.
É isto aí!
Açucena RESOLVE, principalmente A pedra VERDE Esmeralda.
ResponderExcluirInteressante! Muito interessante! Vou consultar meus diletos contatos na simpática Açucena e, claro, em Aramirim. Valeu! Volte sempre!
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