
Refletiu que esta geração que está aí na casa limite dos trinta anos não conheceu muita coisa que era essencial para a vida, como caixa de fósforo, vela, lamparina, pinico, telefone fixo, antena pé-de-galinha com Bombril e tela azul, etc.
Mas cá prá nós, não perdeu muita coisa, pensou. Mas tem um processo que perderam. Durante séculos, a carta era o processo de contato pessoal entre pessoas distantes. Foram as cartas as primeiras manifestações de diálogo entre pessoas residentes em cidades, estados e/ou países distintos.
O primeiro serviço organizado de difusão de documentos escritos que se tem notícia remonta a 2400 anos antes de Cristo, tendo surgido no Antigo Egito, quando os faraós usavam mensageiros para a difusão de decretos em todo o território do Estado. Os persas aperfeiçoaram as normas postais do Egito. O historiador grego Xenofonte descreveu a organização do correio da Pérsia: "Eis uma invenção utilíssima... Por meio dela, Ciro é prontamente informado de tudo o que acontece nas regiões mais longínquas"
Já os gregos, a despeito do grau de civilização atingido por eles, não conseguiram estruturar um sistema postal eficiente, entre outras razões, prejudicado pela falta de unidade política, enquanto isto os cretenses e fenícios desenvolveram um sistema de comunicação postal bom e foram os primeiros a utilizar pombos e andorinhas como mensageiros.
Mas foram os romanos, em um sistema desenvolvido pelo imperador Augusto, que o sistema de correios sobressaiu-se pela vasta rede de estradas. A infra-estrutura que instalada para o sistema postal garantia a transmissão de notícias, a viagem dos funcionários e o transporte de bens em nome do Estado.
O correio romano era regulamentado por lei. O Estado mantinha postos de troca de animais e as paradas com estalagens e instalações para viajantes. As estradas eram balizadas pelos miliarium, que eram marcos colocados em intervalos de cerca de mil passos (1480 metros). Em sua base estava escrito o número da milha relativo à estrada em questão.
Foi pensando assim, que leu uma carta enviada a ele, 40 anos passados, por sua mãe, quando estava na capital estudando:
Meu querido filho,
Escrevo estas poucas linhas que é para saber que estou viva.
Escrevo devagar porque sei que não gosta de ler depressa. Se
receber esta carta, é porque chegou. Se ela não chegar, avisa-me que eu mando
outra.
O teu pai leu no jornal que a maioria dos acidentes ocorre a
1 km de casa. Por isso, mudamo-nos pra mais longe.
Sobre o casaco que queria, o teu tio disse que seria muito
caro mandar pelo correio por causa dos botões de ferro que pesam muito. Assim,
arranquei os botões e coloquei-os no bolso. Quando chegar aí, pregue-os de
novo.
No outro dia, houve uma explosão no botijão de gás aqui na
cozinha. Teu pai e eu fomos atirados pelo ar e caímos fora de casa. Que emoção!
Foi a primeira vez em muitos anos que o teu pai e eu saímos juntos.
Sobre o nosso cão, o Joli, anteontem foi atropelado e
tiveram que lhe cortar o rabo, por isso toma cuidado quando atravessar a rua.
Tua irmã Laura vai ser mãe, mas ainda não sabemos se é
menino ou menina. Portanto, não sei se você vai ser tio ou tia.
Hoje, teu irmão Marcos me deu muito trabalho. Fechou o carro
e deixou as chaves lá dentro. Tive de ir em casa, pegar a reserva para a abrir.
Por sorte, cheguei antes de começar a chuva, pois a capota estava arriada.
Recados da mamãe:
Se vir a Dona Esmeralda, diz-lhe que mando lembranças. Se
não a vir, não digas nada.
Não ande com o Arnaldinho, filho da Filó. Não presta como companhia para você, meu filho.
Minha comadre Euphrasia disse que soube pela sobrinha dela que você e a Geraldinha do Zezé Barbeiro estão muito próximos. Meu filho, sai de perto, aquele povo não vale o angu que come.
Um beijo,
Tua mãe Marilda
PS: Era para te mandar os trezentos cruzeiros que me pediu, mas quando
me lembrei já tinha fechado o envelope.
É isto aí!
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