terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Um rosto para Esperança Garcia






Um rosto para Esperança Garcia
Fonte -  http://www.overmundo.com.br/overblog/um-rosto-para-esperanca-garcia

PROCURA-SE! PROCURA-SE! PROCURA-SE! PROCURA-SE! PROCURA-SE

Fui procurado por jovens alunas do Colégio Cemopi que queriam saber a respeito de algum retrato que porventura houvesse da escrava Esperança Garcia, que escreveu a famosa carta datada de 06 de setembro de 1770 e dirigida ao Governador da Capitania do Piauí. A Carta, que sobreviveu a ela, a seu sofrimento, a seus filhos e a seus algozes, assume particular importância porque é um documento único e decisivo: o seu passaporte para a História. Mas um passaporte sem retrato. Disse às jovens que não havia qualquer foto – inclusive porque a fotografia ainda não havia sido descoberta – ou ilustração que revelasse o seu verdadeiro rosto, visto que apenas os nobres tinham, naquela época, o privilégio de serem retratados por artistas.

Conversando, posteriormente, com o Dr Bill (Carlos Rubem) e em uma troca de e-mails com o professor Luiz Mott (que foi quem encontrou o importante documento) concordamos, os três, que seria importante obter, através de um Concurso Público, uma imagem que pudesse ser atribuída à Escrava que se dava foros de cidadania. Porque, além da referência iconográfica, um concurso dessa natureza acaba difundindo, ainda mais, esse episódio, por todos os títulos, dignificante para a humanidade como um todo.

É importante lembrar que, por força da Lei nº 5.046, de 07 de janeiro de 1999, ficou instituído o 06 de Setembro como sendo o “Dia Estadual da Consciência Negra”.

O Professor Luiz Mott, em memorável entrevista concedida ao “Portal do Sertão”, revela:

“Esperança Garcia foi uma escrava moradora numa das dezenas de fazendas que com a expulsão dos Jesuítas, passaram para a administração governamental, e que em 1770 escreveu uma carta ao Governador do Piauí denunciando os maus-tratos de que era vítima por parte do feitor da fazenda. Salvo erro, é a segunda carta mais antiga até agora conhecida no Brasil manuscrita e assinada por uma escrava negra, e que revela não só os sofrimentos a que estavam condenados os cativos, como o fato de já nos meados do Século XVIII haver mulheres negras alfabetizadas e suficientemente “politizadas” para reivindicar seus direitos e denunciar às autoridades os desmandos de prepostos mais violentos. Além da felicidade de ter descoberto documento tão importante e raro, minha alegria foi maior ainda quando, anos depois, esta negra, até então desconhecida, passou a simbolizar o ideal de liberdade dos negros do Piauí: foi dado o nome de Esperança Garcia a um hospital em Nazaré do Piauí, em Teresina há o Coletivo de Mulheres Negras “Esperança Garcia” e o dia em que ela datou sua carta, 6 de setembro, passou, por lei, a ser comemorado o Dia Estadual da Consciência Negra. Para um historiador é a gloria ter um seu “personagem” ressuscitado e elevado a tantas homenagens dois séculos depois de sua morte”.

A CARTA

"Eu sou hua escrava de V. Sa. administração de Capam. Antº Vieira de Couto, cazada. Desde que o Capam. lá foi adeministrar, q. me tirou da fazenda dos algodois, aonde vevia com meu marido, para ser cozinheira de sua caza, onde nella passo mto mal.
A primeira hé q. ha grandes trovoadas de pancadas em hum filho nem sendo uhã criança q. lhe fez estrair sangue pella boca, em mim não poço esplicar q. sou hu colcham de pancadas, tanto q. cahy huã vez do sobrado abaccho peiada, por mezericordia de Ds. esCapei.
A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confeçar a tres annos. E huã criança minha e duas mais por batizar.
Pello q. Peço a V.S. pello amor de Ds. e do seu Valimto. ponha aos olhos em mim ordinando digo mandar a Procurador que mande p. a fazda. aonde elle me tirou pa eu viver com meu marido e batizar minha filha q.
De V.Sa. sua escrava Esperança Garcia”

O E-mail do Luiz Mott:
A palavra do Professor Luiz Mott:

“Joca e Bill

Excelente iniciativa! Seguem alguns “retratos” antigos de negras que podem servir de inspiração quanto ao cabelo, pano na cabeça, roupas. Zumbi e Escrava Anastacia são pinturas modernas, idealizadas.

Gostaria apenas de sugerir que o rosto de Esperança Garcia seguisse o mesmo modelo do suposto rosto de Zumbi dos Palmares, do tipo 3 por 4 (só busto).

Como ela era crioula, nascida no Brasil, devia usar vestido ou blusa, provavelmente branco de algodão, não deve ser retratada com os seios à vista, pois diz ser católica. Certamente não usava cabelo trançado, nem turbante, talvez um pano na cabeça. Pelo visto ela tinha um filho pequeno e uma filha ainda não batizada, talvez fosse ainda bem jovem, uns 20 anos. Resumindo minha sugestão para o “retrato” de Esperança Garcia: Jovem negra, cabelo curto ou pano na cabeça, camisa decotada branca, olhar altivo mas sofrido pelos maus tratos.

Cordialmente,

Luiz Mott

Antes mesmo de existir, o concurso já desperta interesse! Vejam a troca de e-mails que transcrevo abaixo

Querida Martine

Ficamos muito felizes e honrados com o seu interesse em participar de um Concurso com esta finalidade. Sua participação daria, a ele, uma feição internacional. No entanto é preciso dizer, a bem da pura verdade, que ainda não temos formatado propriamente um concurso, mas apenas lançamos a proposta que pode, ou não, dependendo muito do nosso empenho nisso, vir a ser adotada, talvez, por um consórcio de entidades públicas e privadas voltadas para a valorização dos afro-descendentes nesse Estado.

Façamos o seguinte: já tenho o seu e-mail e qualquer novidade que haja em relação a esta proposta eu me comprometo em colocá-la a par.

Por outro lado, vou ficar muito feliz se você se dispuser a mostrar sua arte – os retratos dos músicos brasileiros negros, por exemplo, cairiam como uma luva –em nosso “Portal do Sertão” , aproveitando como gancho, inclusive, seu declarado interesse em participar do Concurso o que, como eu disse, muito nos prestigia.

Tomo a liberdade de tornar público o seu e-mail objetivando divulgar, ainda mais, a proposta por nós lançada.

Beijos e abraços
Do Joca Oeiras, o anjo andarilho

Senhor Meu nome è Martine Brillard , sou francesa , amiga de Roberto Goncales e Luis Mario . Eles me repassaram seu email sobre o retrato da escrava e o projeto de concurso público. Sou artista plástica radicada no Rio a 12 anos , sou formada nas Belas artes de Paris , e tenho um trabalho figurativo onde já retratei diversos músicos negros Brasileiros . Gostaria de mais informações a respeito desse projeto , primeiramente se a minha nacionalidade Francesa me possilita de partcipar tambén ! e segundo se você teria informações quanto a que nação ela pertencia para poder definir um tipo morfolólico adequado etc!! Qual tipo de premiação o concurso pretende relizar , e as datas. Desde Já agradeço pela sua atenção Amicalmente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gratidão!