A esta hora e neste sítio
(miocárdio ventricular esquerdo)
é a abstrata vida que me assalta.
Eles não sabem
que o seu coração pulsa,
ferido,no meu coração,
que a minha dor alheia
vagarosamente mata
os seus sonhos,os seus sentidos,
os seus dias visíveis e invisíveis,
a linha dos telhados
ao longe sobre o céu.
Como saberiam
(com que palavras exteriores?)
que existem
dentro de mim
de um modo fora de mim,
os parentes,os amigos,
a vaga enfermeira da noite,
que enquanto o meu Único coração
morre na minha cabeça
a luz do quarto se
apaga para sempre
e o silêncio se fecha
sobre os corredores?
No quarto ao lado alguém
a noite passada morreu,
provavelmente eu.
Os livros,as flores
da mesa de cabeceira
conhecerão estas últimas coisas
em algum sítio da minha alma?
*O poeta, jornalista e cronista português Manuel António Pina nasceu em 1943, no Sabugal, distrito da Guarda, na Beira Alta, e faleceu no dia 19 de Outubro de 2012 no Porto - Portugal.
Tendo licenciado-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, foi jornalista do Jornal de Notícias durante três décadas, tendo sido depois cronista do mesmo Jornal de Música e da revista Notícias Magazine.
A obra de Manuel António Pina incidiu principalmente na poesia e na literatura infanto-juvenil embora tenha escrito também diversas peças de teatro e de obras de ficção e crônica. Algumas dessas obras foram adaptadas ao cinema e televisão e editadas em disco.
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