quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O Drummond que você não conhece!



O Drummond que você não conhece!

Satânico é meu pensamento a teu respeito, 
e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão,
numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. 
A noite era quente e calma, 
e eu estava em minha cama, 
quando, sorrateiramente, te aproximaste. 
Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! 
Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama, te esperar. 
Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. 
Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. 
Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, pernilongo Filho da Puta!!!!

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A puta

Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
Na rua de Baixo
Onde é proibido passar.
Onde o ar é vidro ardendo
E labaredas torram a língua
De quem disser: Eu quero
A puta
Quero a puta quero a puta.

Ela arreganha dentes largos
De longe. Na mata do cabelo
Se abre toda, chupante
Boca de mina amanteigada
Quente. A puta quente.

É preciso crescer esta noite inteira sem parar
De crescer e querer
A puta que não sabe
O gosto do desejo do menino
O gosto menino
Que nem o menino
Sabe, e quer saber, querendo a puta.



Carlos Drummond de Andrade

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