Estátua retratando Carlos Drummond de Andrade em homenagem ao poeta, na praia de Copacabana, Rio de Janeiro (RJ).
O Drummond que você não conhece!
Satânico é meu pensamento a teu respeito,
e ardente é o meu
desejo de apertar-te em minha mão,
numa sede de vingança incontestável pelo que
me fizeste ontem.
A noite era quente e calma,
e eu estava em minha cama,
quando, sorrateiramente, te aproximaste.
Encostaste o teu corpo sem roupa no
meu corpo nu, sem o mínimo pudor!
Percebendo minha aparente
indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em
vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que
entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama, te
esperar.
Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força.
Quero te apertar
com todas as forças de minhas mãos.
Só descansarei quando vir sair o sangue
quente do seu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, pernilongo Filho da Puta!!!!
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A puta
Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
Na rua de Baixo
Onde é proibido passar.
Onde o ar é vidro ardendo
E labaredas torram a língua
De quem disser: Eu quero
A puta
Quero a puta quero a puta.
Ela arreganha dentes largos
De longe. Na mata do cabelo
Se abre toda, chupante
Boca de mina amanteigada
Quente. A puta quente.
É preciso crescer esta noite inteira sem parar
De crescer e querer
A puta que não sabe
O gosto do desejo do menino
O gosto menino
Que nem o menino
Sabe, e quer saber, querendo a puta.
Carlos Drummond de Andrade
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