O título é da autoria do Blog
O Texto tem dono: Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Termina no próximo domingo a eleição municipal de 2012. Em
50 cidades, os eleitores voltam às urnas para votar em um dos candidatos a
prefeito que disputam o segundo turno.
Entre essas, na maior cidade brasileira e outras 16 capitais
estaduais.
Foram as eleições mais conturbadas desde a redemocratização.
Por decisão sem fundamento técnico, o Supremo Tribunal Federal (STF) resolveu
fazer o julgamento do “mensalão” exatamente no meio do período eleitoral.
O ápice dessa “coincidência” ocorre ao longo desta semana,
que os ministros consideram adequada para terminá-lo.
Para não atrapalhar a viagem ao exterior do Relator -
certamente de importância fundamental para o País -, vão deliberar a respeito
das penas aos condenados nas vésperas da eleição. Em tempo de preparar as
manchetes dos últimos dias.
E ainda há quem se preocupe em silenciar os carros de som
nessa hora, para que não perturbem os eleitores enquanto refletem sobre sua
decisão final!
Parece que o Judiciário não se incomoda que o julgamento
interfira na eleição. Como disse o Procurador-Geral da República em
inacreditável pronunciamento, acha até “salutar”.
Os principais veículos da indústria de comunicação dedicaram
ao julgamento uma cobertura privilegiada. Na televisão, no rádio, na internet,
nos jornais e revistas, foi, seguramente, maior que aquela que a eleição
recebeu.
Só os muito ingênuos acreditariam que a grande imprensa foi
movida por objetivos morais, que estava genuinamente preocupada com as questões
éticas suscitadas pelo “mensalão”. Basta conhecê-la minimamente, saber quem são
seus proprietários, articulistas e comentaristas, para não ter essa ilusão.
E lembrar seu comportamento no passado, quando fatos tão
graves quanto os de agora - ou mais - aconteceram sob seu olhar complacente.
Como mostra nossa história moderna - desde o ciclo Vargas
aos dias de hoje, passando pelo golpe militar de 1964 e a ditadura -, a grande
imprensa brasileira escolhe lado e não hesita em defendê-lo. Tem amigos e
adversários.
A uns agrada, aos outros ataca.
No julgamento do “mensalão”, a discussão ética sempre foi,
para ela, secundária. O que interessava era seu potencial de utilização
política.
Seria engraçado imaginar uma situação inversa, na qual os
denunciados não fossem “lulopetistas” e sim representantes dos partidos que
hoje estão na oposição. Se o STF fizesse como faz agora, não mereceria o coro
de elogios que ouve, não seria tratado como bastião da moralidade.
Seus ministros, ao invés de receber tratamento de heróis,
estariam sendo achincalhados.
Especialmente os indicados por Lula e Dilma. Pobres deles!
Cada voto que emitissem contra um oposicionista seria suspeito (o que ajuda a
entender porque, no caso concreto, exatamente esses se sintam no dever de ser
punitivos ao máximo).
Nunca foi tão apropriada a teoria de que a eleição municipal
é a ante-sala da presidencial. Não para a maioria do eleitorado, que não pensa
assim. Mas para a oposição - nos partidos políticos, na mídia, no Judiciário,
na sociedade.
Fizeram tudo que podiam para transformar as eleições em uma
derrota para Lula e o PT. Imaginaram que os dois sairiam delas menores,
derrotados nos principais embates. E que, assim, chegariam à eleição que
interessa, a presidencial de 2014, enfraquecidos.
Não foi isso que ocorreu nos confrontos que terminaram no
dia 7 de outubro. Pelo contrário. Se as pesquisas de agora forem confirmadas,
não é isso que ocorrerá no próximo domingo.
Goste-se ou não do ex-presidente e de seu partido, é um
fato. E contra fatos, não há argumentos.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox
Populi
* Foto : No Rio, na noite de 5 de agosto de 1954, desconhecidos
mataram o major da Aeronáutica Rubens Florentino Vaz na rua Tonelero, em
Copacabana.
Os tiros visavam o jornalista Carlos Lacerda, que, nas
páginas de sua Tribuna da Imprensa, fazia violenta campanha contra o presidente
Getúlio Vargas. Ferido no pé, Lacerda intensificou seus ataques, ao mesmo tempo
em que as investigações policiais revelavam o envolvimento de membros da guarda
pessoal do presidente no atentado.
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