quarta-feira, 9 de abril de 2014

Cleidimara de peito aberto



Cleidimara Tamoios era uma moça de beleza quase infinda. Cabelos castanhos encaracolados, voz sensual, corpo escultural e talentosa em tudo que se propunha a fazer. Casou-se, depois de seis meses de relacionamento,  com Amâncio Vagaroso, um português loucamente apaixonado, que sucedeu um tumultuado e tórrido romance de cinco anos com Julinho da Relva, um caso perdido da época universitária. 

Julinho sumiu de repente e ela não quis perder a oportunidade de se dar bem. Foi morar em um luxuoso condomínio e a vida seguiu. Deu que passou a sentir que estava sendo vigiada. Aquilo dava-lhe nos nervos. Teve um dia que o pressentimento de ter sido aguçadamente desejada na rua e foi irritante. Sentiu-se nua na multidão.

Chegou em casa nervosa, falou para Amâncio, que não deu a mínima para o assunto, ou fingiu não ligar. Falou que deveria ser stress e que em dezembro viajariam e tudo voltaria ao normal. Como trabalhava com processos de auditoria em casa e o marido viajava muito, voltou para a academia de Muay Thai, que frequentou por muito tempo e Defesa Pessoal, cujos golpes assimilou rapidamente. 

Num dia de muita chuva, vai atender à porta e era Julinho, sorrindo e abrindo os braços. Beijaram-se, abraçaram-se e experienciaram o fim da saudade. Explicou que teve que abandoná-la de súbito em função de um convite de trabalho que envolvia livre trânsito entre Europa e Ásia e não poderia levar família, além de ser obrigatoriamente solteiro, dado aos fusos horários e os deslocamentos constantes. Findo o contrato, foi promovido para a filial, em São Paulo e passou a residir no mesmo condomínio, e quando a viu esperou a coragem de reatarem . 

Amâncio tinha ciúmes totais da esposa, e passou a ficar cismado que o traia, pois vez ou outra passou a fazer carinhos diferentes dos habituais. Notava certas mudanças com ares de pecado. Contratou um detetive a persegui-la, que depois de semanas não conseguiu provas - na verdade Julinho estava viajando - foi então que bolaram um plano mirabolante. Dariam um susto nela e no desespero revelaria o nome de alguém para socorre-la.

Amâncio colocou uma máscara ninja, entrou pela cozinha e agarrou-a pelo cabelo anunciando um assalto, enquanto batia um bife com martelo na carne, para o almoço. Firmou o martelo pelo cabo e atingiu violentamente na sobrancelha direita do agressor. Ao sentir o impacto, as pernas dobraram e relaxou. Deu-lhe uma cotovelada no fígado, rodou ligeiramente o corpo para a esquerda, e com o cabo do martelo, bateu violentamente no estômago - o sujeito com o rosto sangrando muito, bambeou. Foi quando deu um joelhaço pernas acima. Arqueou e ficou confuso. Deu-lhe uma rasteira rápida, e enquanto caia levou um murro com anel de diamante na face esquerda.

Caído, levou três violentos chutes nas costelas. Cleidimara tirou sua touca ninja e viu que era Amâncio. Com ódio, acordou-o com um balde d'água gelada, ajudou-o a se levantar, e pegando pelo colarinho perguntou aos gritos - Que palhaçada é esta, Amâncio? Eu podia ter matado você! Na confusão o detetive, que estava no armário, se mandou.

- Sussurrando pela dor, explicou que queria dar-lhe um susto e ameaça-la a confessar que tinha um amante.

- Deu-lhe um tapa estalado, com a palma da mão aberta, que doeu na alma. Chamou um táxi e mandou-o ao hospital, onde foi atendido e afirmou à polícia que fora vítima de um atropelamento de moto sem identificação. A polícia acreditou, e o caso nem foi prá frente.

Mandou doze ramalhetes de flores vermelhas pedindo perdão e dizendo que a amava muito. Mandou entregar o carro importado zero que ela sonhava, e voltou para casa com um anel de diamante, ainda maior, na mão.

Chorando e de joelhos, proclamou a sua derrota - Perdoa, meu amor, por ter julgado você mal - nenhum outro homem jamais chegaria perto de você e agora estou consciente disto. Eu errei e mereci o castigo que você quiser. Eu faço qualquer coisa para que me perdoe.

- Tudo bem, mas não me encosta a mão durante um ano, seu idiota! E carregou um tapa sonoro na face do esposo, que com nariz e lábio sangrando, ouviu a sentença: Eu não tenho amante, seu imbecil, e deu outro tapa espalmado, mais forte ainda; mas vou arrumar um, e se quiser ficar, fica; se não quiser, sai e concluiu com o derradeiro bofetão desmoralizante.

Foi assim que Julio voltou a ser Julinho da Relva, que era o apelido da Cleidimara na universidade, e a vida seguiu sem crises entre Amâncio e sua amada esposa.

É isto aí!




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