terça-feira, 8 de abril de 2014

A Imperatriz das Sedas*



Ano eleitoral cai na mesmice do Vale Tudo. Ferrenhos adversários vão prometer tudo, acusar, tocar em feridas abertas ou inexistentes. Governo e oposição fazem um jogo de amor e ódio entre os pares e os inimigos. A população ficará dividida, amizades serão desfeitas, famílias terão sua harmonia atingida e ganhará aquele que conseguir ficar em pé.

Alie-se a isto o terror de grupos para-militares mascarados e os cada vez mais violentos grupos de desordem social. O que temos? Um população com medo e dependência.

Na modesta opinião deste limitado blogueiro, supostamente existe um grupo todo junto e misturado e quem mais vier a ser adsorvido por ele, que são tudo uma coisa só, que administram crises para se manterem no poder, indiferente de quem está em cima.

Em política e sociologia, dividir o povo para governar consiste em ganhar o controle de um lugar através da fragmentação das maiores concentrações de poder, impedindo que se mantenham individualmente. O conceito refere-se a uma estratégia cujo objetivo é romper as estruturas de poder existentes e não deixar que grupos menores se juntem.

O uso desta técnica refere-se ao controle que um grupo (homogêneo ou não, mas com os mesmos objetivos) possui sobre populações ou facções de diferentes interesses, que juntas poderiam ser capazes de se opor aos seus conceitos. Sendo assim, os que detém de fato o poder precisam evitar que os reais opositores se percebam e se entendam como possíveis aliados, pois uma união destas poderia causar uma situação de queda ou perda do controle governamental. 

Maquiavel cita uma estratégia militar parecida com a do livro IV de A Arte da Guerra (Sun Tzu), dizendo que um capitão deve se esforçar ao máximo para dividir as forças do inimigo, seja fazendo-o desconfiar dos homens que confiava antes ou dando-lhe motivos para separar suas forças, enfraquecendo-as.

Basicamente, os elementos dessa técnica envolvem:

01 Criar ou estimular divisões entre os indivíduos com o objetivo de evitar alianças que poderiam desafiar o poder.
02 Auxiliar, promover e dar poder político para aqueles que estão dispostos a cooperar com o poder.
03 Fomentar a inimizade e desconfiança entre os governantes locais
04 Incentivar gastos sem sentido que reduzem a capacidade de gastos políticos e militares

Obs.: Este parágrafo em negrito está sendo acrescentado em 19/09/2017: O título do texto deve-se à co-relação entre aos recursos utilizados na política e aos recursos utilizados no Telecatch, cujo principal patrocinador foi a Loja Imperatriz das Sedas, de valorosa memória comercial e cultural para o país. Abaixo nos comentários, emocionado, recebi uma mensagem da filha do sr. Cesar Morani.

Telecatch foi um programa de televisão criado na extinta TV Excelsior do Rio Canal 2, dedicado à exibição de combates de luta-livre que combinavam encenação teatral, combate e circo. Com a extinção do Palácio de Alumínio (um grande ringue de alumínio dedicado à exibição de combates corpo a corpo), um dos proprietários da rede de lojas Imperatriz das Sedas (cuja sede era vizinha ao palácio montado no terreno do extinto tesouro nacional - doado aos comerciários) e um dos sócios da empresa, "Sr Rafick", resolveu promover um programa de lutas livres (via televisão) e cuja modalidade era o Tele-catch. Durante os anos 60 alcançou o auge do sucesso, criando vários heróis, como Ted Boy Marino.

Inicialmente chamado Telecatch Vulcan devido a uma ligação com a Casa da Borracha dos Cassini (Esportes Náuticos) e Imperatriz das Sedas (dos sócios Cesar Morani e Rafick), a TV Excelsior televisou dos anos de 1965 a 1966. Devido a outro patrocinador, posteriormente passou a ser denominado Telecatch Montilla (TV Globo - 1967 a 1969) e finalmente como Os Reis do Ringue (TV Record) nos anos 70.

Por razões de economia a rede de lojas Imperatriz das Sedas (a principal patrocinadora) e empresas associadas resolveram não mais financiar o Telecatch.


É isto aí!

4 comentários:

  1. Agradeço otimo artigo da Imperatriz das Sedas e o nome do meu saudoso pai é Cesar Morani.
    Abraços
    Solange Morani Massad

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    1. Solange,
      Muito obrigado pela participação. Vou corrigir o nome do seu pai.
      Um abraço
      Paulo Abreu

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    3. Prezada senhora Solange Morani,

      Eu sou apenas um pequeno empresário do interior de Minas que nas horas vagas escreve sem nenhuma pretensão literária ou com conteúdo histórico.

      Minha infância foi marcada pelo Canal 100, TV Tupi, Flavio Cavalcante e outras personalidades determinadas a servir ao Brasil com amor. Hoje percebo que à época da Guerra Fria, no seu auge, empresários com uma visão maior do mundo foram capazes de transmitir uma mensagem subliminar de liberdade, de capacidade de união entre todos os povos. Não consigo ver o Telecatch sem esta energia por detrás da sua aparente inocência.

      As pessoas torciam para seus ídolos, e a princípio não sabiam que tudo aquilo era um enorme teatro, tal qual era a vida real, mas à medida que iam assimilando, o mundo se revelava. E o Rio de janeiro, ah!!!, o Rio de Janeiro, custou-lhe caro quando percebeu que o Palácio Monroe foi o princípio de um cenário ruim para um povo de uma brasilidade infinda. Quanto mais se ama o Rio, se ama o Brasil.

      A cultura, a arte, a beleza, a alegria da nossa pátria, do nosso sentimento pátrio são cariocas e cada vez mais querem (alguém que não gosta daqui, alguns atores do cenário mundial e local) destruir esta história linda de ser o Rio de Janeiro a cidade maravilhosa do Brasil. E o seu pai e tantos outros anônimos como meu avô, carioca do São Cristóvão, sabiam e conseguiram deixar esta marca indelével que mesmo diante desta hecatombe por sobre a Baia da Guanabara, não se esconde a graça de ser carioca, a gema preciosa da nossa pátria.

      Então é isto. O Telecatch marcou época por que semeou no íntimo de cada pessoa que as lutas são todas encenadas, a política é um grande teatro e devemos ter sabedoria e discernimento para compreendermos isto, exposto numa época de repressão.

      Não poderia encerrar sem Vinicius de Moraes em um trecho de seu belíssimo Pátria Minha:

      "Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
      Não sei. De fato, não sei
      Como, por que e quando a minha pátria
      Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
      Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
      Em longas lágrimas amargas. "

      Desejo sucessos no seu projeto do fundo do meu coração.

      Abraços

      Paulo Abreu

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Gratidão!