terça-feira, 8 de abril de 2014

O projeto Melissa


Melissa era uma menina que não acreditava em sonhos e desejos. Estranhava as pessoas que sonhavam. Achava-as vazias e vulgares. Tinha a convicção de que seu destino estava traçado diante sua dedicação ao futuro.

A família havia sido a mais rica de toda a cidade, mas o pai perdeu tudo em jogatina e mulheres. A mãe e a tia ensinaram todos os valores necessários para ser feliz: nunca ler nenhum livro (romance nem pensar), aprender ballet clássico, tocar piano, aulas de gastronomia fina, regras de etiqueta, moda clássica, corte e costura, fonoaudiologia, e postura corporal.

Aos dezoito anos, preparada para a sociedade, foi apresentada ao sr. Jethro Kowalski Paglia, um conhecido usurário da região, cujos títulos da família estavam já em valores exorbitantes nas suas mãos.

O sr. Paglia tinha 60 anos, solteiro e respeitado ou temido por todos da cidade. Duas semanas após conhecer Melissa a pediu em casamento e um mês depois estavam no altar, jurando amor eterno.

Melissa foi detalhadamente preparada para aquele momento. Se ele fizesse isto, faria aquilo, se ele quisesse assim faria deste jeito, se tocasse depressa, trataria de acalmá-lo, se estivesse muito devagar trataria de excitá-lo. Nada de deitar de meias, toucas, pulseiras e anéis. O cabelo não poderia estar molhado, e deveria estar preso para soltá-lo em um gesto sensual à frente do marido. Uma camisola com muitos botões era o suficiente, sendo comprida e fechada até o pescoço.

O esposo não  a procurou na noite de núpcias, nem na seguinte, nem na semana seguinte, nem naquele mês, nem ao menos a viu nua um único dia sequer. Mas explorava todos os seus dons, como uma elegante doméstica de luxo, sendo rude e violento quando não atendido. Durante três anos viveu enclausurada em uma enorme e mofada residência, sem amigos e sem relação com o mundo exterior.

Um dia o Sr. Paglia não voltou para casa. Um infarto ceifou-lhe a vida e Melissa se viu viúva e... rica, sem saber nada, nem o que tinha nem o que podia ter. Melissa tinha 20 anos, estava linda, rica e só. A mãe, em tempo hábil apresentou-lhe Martiniano Guarulhos Hamster, um gerente de banco local, conhecedor de todos os segredos e artimanhas para cuidar da fortuna da moça.

Com seis meses de viuvez,  o sr. Hamster casou-se com ela, após um namoro de olhares e troca de gestos na imensa sala de visitas do casarão. O marido não  a procurou na noite de núpcias, nem na seguinte, nem na semana seguinte, nem naquele mês, nem ao menos a viu nua um único dia sequer. Mas explorava todos os seus dons, como uma elegante doméstica de luxo, sendo rude e violento quando não atendido. Durante três anos viveu enclausurada em uma enorme e mofada residência, sem amigos e sem relação com o mundo exterior.

Um dia, o Sr. Hamster, que triplicara a fortuna da moça, morreu atropelado ao atravessar a rua em frente ao banco, Melissa tinha 23 anos, estava linda, rica e só. A mãe, em tempo hábil apresentou-lhe Cornélio Virtudes Wolfgang, um comerciante local, muito rico, viúvo sem filhos ou herdeiros, conhecedor de todos os segredos e artimanhas para cuidar da fortuna da moça.

Com três meses de viúva, Melissa casou-se com o sr. Wolfgang, de 72 anos, que faleceu na noite de núpcias. Melissa teve sua fortuna dobrada da noite para o dia. A mãe, em tempo hábil apresentou-lhe Joãozinho Boiadeiro, um pequeno pecuarista local, com fama de garanhão, de trinta anos, conhecedor de todos os segredos e artimanhas para cuidar da moça. Viveram ricos para sempre...

É isto aí!

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