sexta-feira, 11 de abril de 2014

Rendas e Bordados - 2ª Parte

Um dia, e este dia sempre chega, Jefferson, que estava de habilitação recente, convidou Stevenson para visitarem uma famosa boate de strippers e pole dance no Rio de Janeiro, perto da sua cidade. Ninguém saberia de nada, pois estariam de volta antes do amanhecer..

As mães tinham viajado para Vitória e os pais no turno, risco zero. Elas embarcaram no ônibus da véspera, lotadas de encomendas; os pais estavam na escala do final de semana da linha de produção e as irmãs só queriam ver a maratona da The Big Bang Theory na TV nova de 50 polegadas 3G LED. 

A boate, enorme, tinha um palco com pole dance ao centro. E o locutor sempre fazia a chamada para a grande atração da noite - as imbatíveis mascaradas. Os rapazes estavam curtindo o ambiente, esperando para ver o famoso espetáculo. Entraram em cenas duas gostosonas, de lingerie preta sensualíssima, com máscaras temáticas, e se alisaram, se encostaram, se encoxaram, se arranharam, gruíram, dançaram, rebolaram, e a platéia aplaudia e gritava sem parar. Delírio total, notas de cem e cinquenta choviam e pediam bis. Mais dinheiro, mais tentação e pegação. Até que tiraram as máscaras e ficaram aos beijos escandalosamente deliciosos. Todos de pé, gritaria total, e mais dinheiro no palco.

Stevenson foi o primeiro a perceber uma familiaridade naqueles rostos, cutucou Jefferson, falou algo ao seu ouvido e se aproximaram do palco. Ao chegarem próximo à pista, uma mão tocou no ombro dos dois. Era Deoclécia Taoca, com quatro seguranças parrudos. Convidou-os a irem ao escritório. Sem opção a seguiram, atônitos e assustados. Foi direta ao assunto e ofereceu 5% do faturamento das mães para ficarem calados. Garantiu que aquilo não era nada demais e que só ocorria no palco e não havia amantes ou homens na história. Faziam pelo amor à família e pela necessidade de pagar seus estudos.

Falou dos carros, das Tv 3D, dos computadores, dos celulares 4G, dos notebooks, das viagens à Disney, da casa da praia e tudo o mais que ganharam nos últimos dois anos. Perderiam tudo isto só por que as mães estavam dando duro para terem conforto? Elas nem saberiam que estiveram ali, afirmou com convicção.

Jefferson, refeito do susto, pediu 15%, mas Deoclécia manteve os 5% mesmo que as irmãs passassem a integrar a equipe de venda de artesanato com as mães. Acabaram concordando com certo constrangimento, ao verem o dinheiro vivo colocado sobre a mesa, na frente deles.

Depois que saíram, já com a antecipação daquela semana no bolso, Genaro Rato, dono do negócio, chegou à porta do escritório, olhou bem para Deoclécia, deu uma boa gargalhada e perguntou - até quando irão acreditar nesta versão light? Ela olhou, com jeito de deboche, espreguiçou na cadeira e murmurou - enquanto o negócio das rendas e bordados forem atrativos, meu bem.

- É, mas falando nisto, estou aumentando em 20% o custo daquelas peças que elas trazem, e que o turco arremata para sua rede de lojas, além de babar nas duas toda noite. Sabe como é, Deoclécia, do meu bolso não sai nada para tapar boca de curioso, e como sempre, é o povo mesmo que acaba pagando a mais pela sacanagem que vem de cima...

- É isto aí! 

Um comentário:

  1. Caríssimo amigo,Paulo Abreu!

    Estar aqui em sua casa me faz alegre...gosto muito de seus contos.
    Abraços
    Sinval

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Gratidão!