Brigam cariocas, fluminenses, capixabas e capiaus pelo
direito ao Petróleo. Querem a máxima - O Petróleo é Nosso, frase que foi criada por
Otacílio Raínho, professor e diretor do Colégio Vasco da Gama, no Rio de
Janeiro, cujo lema Getúlio utilizou para dizer que o Petróleo era Nosso, mas não no
sentido de querer dizer que era nosso, pois tinha uma conotação mais globalizada, digamos assim.
Em 1936, diante dos obstáculos impostos pelo governo Vargas
à exploração de petróleo, Monteiro Lobato lançou O Escândalo do Petróleo, no
qual acusava o governo de "não perfurar e não deixar que se perfure".
O livro esgotou várias edições em menos de um mês.
O Escândalo do Petróleo foi censurado em 1937 por Getúlio
Vargas, no mesmo ano em que o escritor lançou O Poço do Visconde. Na obra
supostamente infantil, diz que "ninguém acreditava na existência do
petróleo nesta enorme área de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, toda ela
circundada pelos poços de petróleo das repúblicas vizinha". Monteiro
Lobato acaba sendo preso em 1941, ironicamente por uma ordem partida do General
carioca Horta Barbosa, que mais tarde seria um dos líderes da Campanha do
Petróleo.
Pois bem, foram os cariocas que bateram, prenderam e
desmoralizaram Monteiro Lobato, que queria o Petróleo como coisa e propriedade
nossa - Brasil.
Agora o discurso muda. Os cariocas querem o petróleo só prá
eles.. Nada como um dia após o outro.
Uma carta de Monteiro Lobato a Getúlio:
São Paulo, 20 de janeiro de 1935
Dr. Getúlio Vargas
Por intermédio do meu amigo Rônald de Carvalho, procurei no
dia 15 do corrente, fazer chegar ao seu conhecimento uma exposição confidencial
sobre o caso do petróleo, estou na incerteza se esse escrito chegou a destino.
Talvez se perdesse no desastre do dia 20. E como se trata de documento de muita
importância pelas revelações que faz, seria de toda conveniência que eu fosse
informado a respeito. Nele denuncio as manobras da Standard Oil para
senhorear-se das nossas melhores terras potencialmente petrolíferas, confissão
feita em carta pelo próprio diretor dos serviços geológicos da Standard Oil of
Argentina, que é o tentáculo do polvo que manipula o brasil. E isso com a
cooperação efetiva do sr. Victor Oppenheim e Mark Malamphy, elementos seus que
essa companhia insinuou ou no Serviço Geológico e agora dirigem tudo lá, sob o
olho palerma e inocentíssimo do dr. Fleuri da Rocha. É de tal valor a
confissão, que se eu der a público com os respectivos comentários o público
ficará seriamente abalado.
Acabo agora de obter mai uma prova da duplicidade desse
Oppenheim, cornaca do Fleuri. Em comunicação reservada que ele enviou para a
Argentina ele diz justamente o contrário, quanto às possibilidades petrolíferas
do Sul do Brasil, do que faz aqui o Fleuri pelos jornais, com o objetivo de embaraçar
a marcha dos trabalhos da Companhia Petróleos.
O assunto é extremamente sério e faz jus ao exame sereno do
Presidente da República, pois que as nossas melhores jazidas de minérios já
caíram em mãos estrangeiras e no passo em que as coisas vão o mesmo se dará com
as terras potencialmente petrolíferas. E já hoje ninguém poderá negar isso
visto que tenho uma carta em que o chefe dos serviços geológicos da Standard
ingenuamente confessa tudo, e declara que a intenção dessa companhia é manter o
Brasil em estado de "escravização petrolífera".
Aproveito o ensejo para lembrar que ainda não recebi os
papéis, ou estudos preliminares do serviço que V. Excia. Tinha em vista
organizar, por ocasião do encontro que tivemos em fins do ano passado, no
Palácio Guanabara.
Respeitosamente,
J. B. Monteiro Lobato
__________________________________
Outra Carta de Monteiro Lobato a Getúlio:
São Paulo, 19 de agosto de 1935
Dr. Getúlio Vargas
Rio de Janeiro
Excelentíssimo Senhor:
Conforme previ na última audiência que me foi concedida a 15
do corrente, há alguém interessado em embaraçar a ação da Cia Petróleos do
Brasil, dificultando a obtenção da autorização para que ela siga seu curso
natural, fora das restrições do Decreto nº 20.799, que, em requerimento ao
Ministério da Agricultura, foi pedida. E como V. Excia., me autorizou, neste
caso, a recorrer diretamente a V. Excia., como guardião que é dos verdadeiros
interesses nacionais, sou forçado a lançar mão desse recurso.
Negam-nos a autorização pedida, dificultando, retardando,
protelando o necessário decreto. Isso vem impossibilitar a atividade da Cia
Petróleos do Brasil. Os homens contratados à custa de tanto sacrifício
monetário para procederem em nosso território quatro meses de provas, nada
poderão fazer já que a companhia que os contratou não pode fazer contratos de
opção nos terrenos a serem examinados. E desse modo terão de regressar para a
América do Norte sem que o Brasil se beneficie das vantagens incomensuráveis da
série de provas previstas e para as quais a nossa empresa se formou.
Isso constitui um crime imperdoável, além de denunciar de
modo esmagador que há gente paga por estrangeiros para que o Brasil não tenha
nunca o seu petróleo. Em vez de, pelas funções de seus cargos, esses homens
tudo fazerem para que tenhamos petróleo, quanto antes, tudo fazem para que não
o tenhamos nunca. O caso é, pois, desses que pede a imediata intervenção de
homens que, como V. Excia., só têm em vista os altos interesses do País.
Assim, de acordo com a promessa que V. Excia. Me fez, venho
denunciar a manobra da sabotagem burocrática e pedir o remédio urgente.
Respeitosamente subscrevo-me
De V. Excia. Atento servidor
Monteiro Lobato.
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